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VOZES DA NOTÍCIA

As redações dos jornais estão acostumadas a receber informações envolvendo mortes violentas e disso todo mundo já sabe. Não é todo dia, no entanto, que o reduto de jornalistas tem suas estruturas balançadas e uma manchete sugestiva, para não dizer pronta, como na manhã de 6 de fevereiro de 2015 quando 12 jovens foram mortos após ação das Rondas Especiais (Rondesp) da Polícia Militar, dentro da Vila Moisés, região periférica do bairro do Cabula, em Salvador. O prato cheio foi devorado pela imprensa em seus canais digitais, poucas horas depois. Os impressos, claro, só puderam aproveitar a manchete no dia seguinte.

 

Sem maiores prejuízos pelo delay da informação, no entanto, a versão impressa do Jornal Correio até classificou os mortos como "ladrões de banco". A informação, creditada à Polícia Civil, aparecia em letras vermelhas garrafais, na edição 11797 do veículo. "Ação para desbaratar uma quadrilha especializada em explodir terminais 24h acaba em chacina. Policiais dizem que foram recebidos a tiros", sinaliza o subtítulo da manchete, que evidencia o número de mortos. Fotos das armas supostamente apreendidas e uma frase do comandante-geral da PM, Anselmo Brandão, afirmando que os PMs foram "para o embate e houve resistência", completam a página principal.

 

Foto: Reprodução

Chefe de reportagem do Correio há seis anos, o jornalista Jorge Gauthier afirma que, em algumas situações, as notícias têm os fatos comprometidos. "Infelizmente, há certa necessidade de ter agilidade com os casos, porque é um volume muito grande de homicídios, todos os dias. Principalmente quando a gente está na mecânica da internet. É um universo que requer uma
atualização mais imediata, e em uma matéria de violência não necessariamente você consegue uma atualização tão rápida. Infelizmente, temos o problema de publicar coisas sem uma apuração 100%. Isso, particularmente, me incomoda muito", aponta ele, que assumiu a editoria Minha Bahia há um ano, após passar cinco anos à frente da seção de Economia. Embora afirme que se sente incomodado, o chefe de reportagem diz que enxerga a questão como "um ciclo vicioso de toda imprensa".

Henrique Oliveira, entretanto, aponta outras questões às quais ele avalia como deficiências nas coberturas jornalísticas dos casos de polícia. "Eu reconheço que não deve ser fácil encontrar pessoas que façam o contraponto à voz da PM, aos autos de resistência. E aí o jornal se vê na situação de noticiar apenas a versão policial, que geralmente é o padrão da 'legítima defesa'. Mas uma coisa que eu observo é que não vemos o jornal problematizar e questionar à polícia, por exemplo, sobre mandados judiciais para invadir casas em determinadas operações nas periferias, ou sobre o parecer legal para acessar dados pessoais e particulares. Então o jornal peca, muitas vezes, em não questionar, não ter um olhar crítico acerca do discurso 'oficial'". 

 

                                                    Título de matéria no portal Correio 24 horas afirma troca de tiros

força-tarefa

Foto: Reprodução

Em uma capa 100% dedicada ao caso, apenas um elemento sugere que o que os agentes afirmam é apenas uma versão da história. É o questionamento de coordenador do grupo militante Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, Hamilton Borges: "como apreenderam tantas armas se os policiais saíram ilesos?". 

Na avaliação do mestrando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisador de temas relacionados à segurança pública, Henrique Oliveira, a capa em questão é "policialesca".

 

O que significa dizer, segundo Henrique — pesquisador da "Criação da Política de Identificação Criminal entre os anos 1912 e 1930" , que a versão da corporação é colocada como principal pelo jornal, que é líder em circulação no Norte e Nordeste do país. "O jornal não tinha elementos suficientes para afirmar que as vítimas eram 'ladrões de banco'. Sem falar no termo 'ataca', que soa como se eles fossem bichos", argumenta.

 

Conforme o pesquisador, a imprensa deve estar atenta e saber os limites, com base na impessoalidade, dentro das coberturas dos casos de violência. "O grande desafio do jornalismo é saber qual o limite da polícia e o limite do jornal. O que cabe ao jornalismo e o que cabe à polícia. Muitas vezes, o jornal é tão acusador quanto os PMs. E aí se transforma em um mero reprodutor desse discurso criminalizador".

 

 

 

 

Gauthier, que foi repórter por quatro anos no mesmo Correio, afirmou que um episódio como a Chacina do Cabula é forte a ponto de mudar toda dinâmica de produção do jornal, sendo necessário montar uma verdadeira força-tarefa. "É um crime fora do padrão, porque estamos acostumados com os homicídios. Mais de três pessoas mortas já indica que houve um crime diferenciado. Quando esse número sobe para sete, dez mortos, temos que mudar todo roteiro do dia. Dividir a equipe que vai pro IML, que vai pro local do crime. Uma questão operacional, mesmo. Quando a gente pensa na operacionalização do jornal, uma chacina com 12 pessoas mortas eu não vou deixar na mão de um repórter só. As outras coisas vão, sim, para segundo plano". 

"Esse tipo de crime tem uma prioridade por dois motivos: o número de pessoas que envolve e pelas circunstâncias. Potencializa a quantidade de pessoas atingidas. Não é uma família, são 12. No caso da chacina, foi uma comunidade inteira, as pessoas eram todas, possivelmente, conhecidas.  A Chacina do Cabula, se a principal indicativa era de que ele teria sido  provocado pela polícia, ganha ainda mais critério de noticiabilidade. Porque é um agente público que deveria proteger e está matando".

Uma equipe de pelo menos 15 pessoas, entre repórteres, fotógrafos e editores participaram da cobertura, segundo o jornalista. Os desdobramentos da Chacina do Cabula também foram repercutidos pelo Correio, em suas plataformas impressa e digital. Basta uma busca simples, de meio minuto, no portal Correio 24 horas para encontrar, pelo menos, 30 matérias acerca do assunto. Embora critique a "falta de visão crítica" do veículo, para o pesquisador Henrique Oliveira, o jornal conseguiu passar informações importantes. "Neste caso, eu destaco a cobertura porque eles conseguiram encontrar familiares e deram voz àquelas pessoas. O que é muito importante. Além disso, o Correio deu um furo de reportagem, dando o resultado dos laudos cadavéricos com exclusividade".

Responsável pela informação exclusiva, o repórter Bruno Wendel fez mais da metade da cobertura. Há 12 anos no Correio, Bruno trabalhou por um ano na Tribuna da Bahia e passou boa parte da carreira cobrindo casos na área de segurança pública. Para ele,  a chacina pode ser resumida como uma "sucessão de erros por parte da PM". Entre eles, o repórter destaca o fato do delegado responsável pela investigação do caso, Odair Caneiro, ter afirmado que nove vítimas tinham passagens pela polícia.

 

"Ele afirmou, em coletiva, que praticamente todos tinham ficha, mas apenas dois já haviam sido detidos. Eu conversei com muitos familiares, muitas testemunhas, que sempre demonstravam muito medo", contou a Gatilho. Ainda conforme o repórter, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) contestou o fato das reportagens tratarem o caso como chacina. "A SSP rebatia ao chamarmos de chacina. Mas o Correio teve acesso a um relatório que veio de Brasília, do Governo Federal,  o qual chamava de chacina", conclui Wendel.

 

 

 

 

                                        Quatro dias após coletiva, PC voltou atrás quanto a histórico criminal de vítimas

Quanto às informações acerca da ficha criminal das vítimas, Henrique Oliveira defende que este tipo de classificação é negativa para as vítimas e seus familiares. "Eu critico o uso da ficha criminal, acredito que seja um uso desnecessário, que muitas vezes não tem a ver com o fato e que acaba criando uma identidade criminal para a vítima. Só serve para amortecer o impacto da violência policial na cidade de Salvador". A prática, no entanto, é amplamente utilizada em matérias jornalísticas de veículos diversos, aponta ele.

 

Para Jorge Gauthier, o jornalismo é como um quebra-cabeça e todas as peças devem ser encaixadas. "O ideal é fazer com que as pessoas entendam aquilo ali. Quem eventualmente for acusado tem que ser ouvido.  Nosso dever é envelopar tudo isso, todas as vozes. "Se um crime aconteceu, a polícia diz uma coisa, a família diz outra e todos os pontos devem ser mostrados. Não é um papel do jornalista fazer nenhuma conclusão, esse é um papel do leitor. Nossa apuração independe de qualquer inclinação política".

 

As afirmações do governador Rui Costa, na época — "os policiais agiram como verdadeiros artilheiros na frente do gol. Nenhum deles vai ser afastado, pois tudo indica que agiram em legítima defesa" —,  também foram lembradas por Wendel como uma das coisas mais marcantes da cobertura da Chacina do Cabula. "Foi gritante, uma das coisas que mais revoltou, não só os familiares, mas a todos nós que estávamos nos bastidores, acompanhando o caso.  A maior autoridade do estado comparar o que  claramente foi uma execução com atacantes marcando um gol. Isso foi leviano demais", avalia Bruno. As afirmações de Rui Costa foram amplamente divulgadas, não só pelo Correio, mas por toda imprensa baiana.

Editora de fechamento do líder em circulação do estado, Clarissa Pacheco foi repórter do veículo por oito anos e uma das responsáveis pela cobertura do caso da vila. Segundo ela, houve pontos marcantes na experiência. "Todo repórter que cobre cidade sabe o que isso significa. Se chega na redação que 12 pessoas foram assassinadas pela polícia, a editoria enlouquece e isso é muito grande. Eu fui a repórter que foi pro hospital [Geral Roberto Santos]. Era como uma fila, uma fila de familiares que buscavam notícias e aquilo já me deixou um tanto chocada".

"Tinha a história do menino que tinha saído pra pegar uma pizza e encontrar a namorada", diz, em referência a Natanael, 17 anos. "Outros que estavam jogando bola. Tudo aquilo me marcou muito. A dor dos familiares, dizendo que não, que a maioria deles não tinha nada a ver com aquilo, que não estavam armados. E ver aquela quantidade de coisas que a polícia apresentou", completou ela, que também citou a declaração de Rui Costa.

                                                          Declaração do governador foi destaque em matéria do Correio

Embora a declaração do governador tenha sido amplamente divulgada em diversos sites jornalísticos, e alguns voltados para a política partidária, Gatilho apurou, nas redes sociais do Jornal Correio, dezenas de comentários que acusavam o veículo de ser "falso", "tendencioso" e de não ter "compromisso com a verdade" porque é "o jornal do prefeito, claro que vai ficar contra o Governo do Estado". Os mais exaltados chegaram a dizer que "os 12 marginais vão, agora, arder no inferno, jornalzinho lixo do prefeito que defende bandido". 

Em um post de 2017 que falava sobre o adiamento do julgamento da federalização do caso, de 45 comentários, 21 acusavam o correio de "defender bandido", dar "moral a traficante" e adjacentes. O comportamento dos leitores endossa os dados do 9º anuário da Segurança Pública, que indicou que metade da opinião pública apoia as ações letais dos agentes do Estado. Conforme os dados da pesquisa, 54% das pessoas que moram na região Sul do Brasil são favoráveis ao uso da força máxima das corporações. A tese de que "bandido bom é bandido morto" é abraçada por 50% das pessoas que moram em grandes capitais brasileiras, ainda de acordo com o estudo.

linha editorial 
Editora da seção Minha Bahia, a jornalista Mariana Rios comentou com Gatilho que sua equipe de reportagem é orientada a questionar as versões oficiais. Quanto às questões com relação ao possível embate Correio x Estado, Mariana afirma que, quando o assunto é segurança pública, especialmente na história da chacina, houve uma necessidade maior de repercutir o caso. 

"O Estado fez parecer um auto de resistência, então era natural que a gente cobrasse, questionasse as posições. Notamos que outros órgãos, como o Ministério Público, se envolveram, o caso cresceu e as esferas foram somando o que virou. Falam que o Correio é tendencioso porque, sim, todos sabem que é oposição. Mas nós não temos nenhum tipo de direcionamento neste sentido", garante ela, que trabalha no jornal do grupo Rede Bahia de propriedade dos Magalhães —, há 12 anos. A editora também tem passagens, como repórter, no Diário de São Paulo.

E completou: "a gente tenta ouvir as famílias. Se a fonte não quer se identificar, muitas vezes por uma questão de segurança, a gente tem esse cuidado na edição. Claro que falhas vão acontecer, mas dentro da possibilidade, tentamos a imparcialidade, que, reconhecemos, é difícil. O ponto de partida é ouvir todos os lados". Quando questionada sobre os critérios para escolher as pautas de violência, a editora explica que os casos de polícia já tiveram mais espaço.

"Não existia uma mensuração do que o leitor querida ler. Hoje há um direcionamento mais para um jornalismo de serviço, ou seja, atualmente, nós tentamos abrir leques mais para que o leitor possa refletir questões como: 'a polícia que faz isso é uma polícia que está preparada? É uma polícia que sabe lidar com conflitos? ", avalia.
 

polícia vs segurança pública

E se há diferença entre a cobertura do factual [fato do dia], propriamente dita, nos casos de polícia, o que torna um caso de violência, nos jornais, uma pauta de segurança pública? O chefe de reportagem do Correio explica que há diferença entre uma coisa e outra. "A matéria de polícia é a cobertura hard do dia, ou seja, as atualizações rápidas, o grosso do assunto. A matéria de segurança é aquela que faz pensar o evento, feita com mais fontes, com mais cuidado. Que faz o leitor analisar o processo. Por exemplo, nós já fizemos diversos casos de feminicídio esse ano, mas quando sai das linhas do 'normal, que acontece sempre', a gente precisa dar uma atenção maior, abrir os horizontes da pauta".

Mariana Rios completa que os casos de grande repercussão, como a chacina, sempre têm espaço garantido. "E as pessoas vão, sim, ler esses casos no Correio, tanto as que acompanham as coberturas de polícia, tanto as que veem como segurança. Porque lá elas vão encontrar o fato e o acompanhamento do fato. Nós vamos acompanhar o trâmite junto à família, à Corregedoria. O papel do jornalismo é isso: informar, fazer surgir outras pautas e, claro, criar repercussão". 

 

A importância do jornalismo para a sociedade, defende Jorge Gauthier, supera as barreiras da informação. O chefe de reportagem acredita que a imprensa, em muitos casos, é determinante para a investigação dos crimes. "Não é que a polícia não investigue os casos que não chegam à imprensa. Mas quando tem essa cobertura forte dos veículos, uma visibilidade maior, mais jornalistas procurando, entra uma linha política, não a partidária, mas de organização da sociedade civil. As pessoas começam a se interessar e isso meio que força as autoridades a apresentarem a resposta e dar o resultado". 

 

"Em contrapartida, noto que é preciso ter cautela no que é noticiado, porque pode prejudicar as investigações, em algumas situações".  Jorge citou, ainda, o caso Geovane, denunciado por Bruno Wendel em 2014, que trouxe à tona a morte e esquartejamento do rapaz dentro do Batalhão da Rondesp Atlântico, na Cidade Baixa. A história, que deu origem à série de reportagens “Onde está Geovane?”, rendeu ao repórter o primeiro lugar no prêmio OAB de jornalismo em 2015.  

 

Gatilho procurou a assessoria de imprensa da SSP para saber as considerações da pasta acerca do trabalho da imprensa mas não conseguiu entrevista com assessores.

desafios  da reportagem

Ouvir familiares, autoridades, testemunhas e o máximo de pessoas envolvidas nos casos de polícia, no entanto, pode não ser uma tarefa fácil. A repórter Clarissa Pacheco afirma que é difícil conseguir e organizar as informações nestas coberturas. "Quem é repórter de cidade sabe o quanto lidamos com crimes. É complicado, especialmente quando envolve a polícia, porque geralmente as pessoas são assassinadas. Aí tem a versão de que elas não tinham ligação com o crime, ou mesmo quando têm, é difícil. A primeira informação que a gente vai receber é sempre de que as vítimas estavam armadas, atiraram contra as guarnições, e só depois é que as coisas vêm à tona. Tem o lado das famílias de quem morre. E por quê morrem, entende?".  

 

Segundo a editora, as versões da corporação, nestes casos, não têm grande variação.  "A gente não sabe se dá crédito à polícia, porque aquele é um discurso que você ouve o tempo inteiro. Você nunca sabe no que acreditar. Porque é algo que acontece sempre, mas não nessa quantidade de pessoas [12], e esse é o diferencial da Chacina do Cabula".

A jornalista acrescenta, ainda, que falar com familiares também pode ser uma grande dificuldade, por se tratar de um momento delicado para quem perde um parente. Em muitos dos casos, resta apenas a versão da PM, que acaba sendo a oficializada pela investigação e, por tabela, pela imprensa. Talvez isso explique o porquê de, no furor para divulgar as informações, os veículos se estendam e, de certa maneira, façam crescer a credibilidade do discurso da PM. No caso da Chacina do Cabula, a manchete de "12 mortos em troca de tiros", já nas primeiras horas da manhã, estampavam as páginas digitais. Não foi diferente no Correio, que só horas depois depois conseguiu entrevistar familiares e veicular matérias que contradiziam a versão da PM.

Mas isso não significa dizer que estar diante de alguém que perdeu um parente assassinado seja o mesmo que enxergar um oásis no deserto. "Primeiro porque a gente não estava lidando com um ou dois mortos, eram 12. Eram 12 famílias, era muita coisa. Tem a questão de você falar com aquelas pessoas e não saber muito bem o que dizer. O que vai ser depois dali, se alguém vai ou não ser punido, uma série de coisas muito complicadas. Porque tem também a questão: será que o PM que está ali é bem preparado psicologicamente para, de repente, lidar com o traficante que está bem armado? Não é simplesmente criminalizar o agente ou o suspeito. tem uma série de questões", conclui Clarissa. 

Não ter a versão da família, contudo, não impede que os jornais veiculem suas matérias. Segundo Jorge Gauthier, o ponto é buscar todas as fontes, mas há a possibilidade de que isso não aconteça. "Se uma história é interessante para a imprensa, todo mundo vai correr atrás desse caso. Ouvir as pessoas possíveis, buscar o diferencial de cada história. É você encontrar a testemunha certa, é buscar a melhor aspa, não se contentar com uma fonte só. Buscar outros elementos para compor a reportagem, correr atrás de outras vozes para que aquela informação esteja o mais construída possível e da melhor forma. Esse é o nosso ideal, mas não é sempre que acontece".

 

 

Nas dezenas de vezes em que esteve na Vila Moisés, Bruno Wendel entrevistou diversas pessoas, entre familiares e testemunhas. "Eu ouvi muitas coisas. Quase por unanimidade, os moradores relatavam a execução. Enquanto a PM reiterava a história do roubo a banco. Eu, enquanto cidadão e jornalista, vejo este caso como uma banalização da violência por parte da Polícia Militar. Não que os jovens fossem todos inocentes, não sei, mas não há o que justifique".

 

O repórter, no entanto, pontua que toda a apuração deve ser transferida para o leitor de maneira clara e objetiva. "Nosso papel é ser imparcial, sempre. Mas eu lembro do laudo, os resultados dos laudos e aí fica difícil acreditar que eles eram especializados em banco com aquela quantidade de armamento apenas. Os uniformes que vimos na coletiva não tinham marcas de sangue. Porque ali era um ponto de tráfico e isso todo mundo afirmou, mas executar é absurdo. E não é o único caso, não foi. Temos Geovane, o caso do menino Joel, também. As 12 mortes não são isoladas, infelizmente".

 

Tão importante para a composição das matérias jornalísticas quanto o trabalho do repórter, é o trabalho dos repórteres fotográficos. Há oito anos no Correio, o fotógrafo Arisson Marinho lembra da Chacina do Cabula como um caso de dificuldade acentuada. "Existe uma questão que dificulta muito para quem faz imagens. Neste caso, é o nosso equipamento. As câmeras inibem muito as pessoas, especialmente em situações de violência. Além disso, estávamos tratando de polícia, né? Eles não gostam da imprensa".

Seria só mais uma reconstituição para o profissional, que já havia feito o trabalho nas remontagens de outros dois crimes, mas Arisson recorda que ficou surpreso com o esquema de segurança montado para a encenação da chacina. "Eram muitos, muitos policiais. Eles te olham e só por aí você sabe que ele desejaria que você não estivesse ali. No caso do Cabula, me assustou a quantidade. Sem falar que os agentes envolvidos estavam lá, eles usavam máscaras, mas estavam lá. Sem dúvida, é a cobertura mais difícil de fazer. E eu diria que é cada dia fica mais difícil cobrir casos de violência", salienta.

Responsáveis quase que integralmente pela produção da notícia, é dos repórteres a responsabilidade sobre o que apuram e o que escrevem, afirma a editora Mariana Rios. "O repórter é o nosso braço na rua, é ele que acha o familiar, que cava a entrevista. Claro que a estrutura também conta muito. Um caso como aquele, necessariamente, envolve uma equipe maior. Além de uma estrutura operacional, como ter carros disponíveis, equipamentos que facilitem a agilidade da produção", diz. Os casos de polícia são citados pela jornalista como divisores de águas para os profissionais do jornalismo. "Ser repórter de polícia é ser desafiado todos os dias. Especialmente quando se é mulher na cobertura. É desafiante". Para Mariana, se um repórter opta por se especializar em driblar as barreiras dos casos de polícia, ele já mostra a que veio.

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Jorge Gauthier - Chefe de Reportagem do Jornal Correio*
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a chacina em edições impressas

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sobre nós

Agradecimentos: Arisson Marinho, Bruno Wendel, 

Clarissa Pacheco, Jorge Gauthier, Linda Bezerra,
Mariana Rios e toda equipe do Jornal Correio.

Alba Freitas, Davi Gallo, Edson Silva,
Henrique Oliveira, Kênia Borges, Linsmar Vilas Boas,
Lílian Lima, Mariana Possas, Ury Silva e Vilma Reis.


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O especial Gatilho foi produzido sob a orientação do 
Prof. Ms. Laércio Torres de Góes.

Reportagem e crônica: Tailane Muniz
Entrevista: Dener Gonçalves, Luiza Fabiane
e Tailane Muniz
Fotografia: Arquivo/Jornal Correio
Vídeo: Márcio Caetano
Edição de vídeo: Márcio Caetano
Logomarca: Jeferson Almeida
Edição de áudio: Tailane Muniz
Produção: Dener Gonçalves, Luiza Fabiane

e Tailane Muniz
Criação e desenvolvimento web: Tailane Muniz

Edição web: Tailane Muniz

Coordenação-geral e conceito: Tailane Muniz

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