
GATILHO
editorial
Gatilho nasceu da necessidade de discutir o genocídio negro nas áreas pobres de Salvador. O projeto se tornou realidade porque acreditamos no jornalismo como uma ferramenta que tem — e deve cumprir — um papel social; que deve agir em benefício de todas as pessoas, sem distinção; que deve se pautar pela verdade dos fatos.
Gatilho existe porque nós, jovens moradores da periferia de Salvador, não estamos satisfeitos com as ações da Polícia Militar do Estado da Bahia. Estamos cansados de viver em uma realidade onde os alvos das ações letais do Estado têm cor e condição social.
Gatilho é a maneira que encontramos de dizer que as 12 mortes da Vila Moisés não teriam ocorrido no Corredor da Vitória, metro quadrado mais caro da capital baiana. Encontramos, por meio de Gatilho, uma maneira de mostrar que a segurança pública é essencial e precisa ser debatida. Que policiais que executam pessoas não podem ser considerados "artilheiros na frente de um gol", como insinuou o governador Rui Costa, à época.
Gatilho existe porque a atual política de repressão ao tráfico de drogas deu errado. Porque não aguentamos mais a resposta padrão da corporação de que a PM costuma ser recebida a tiros nas comunidades periféricas da cidade, embora sempre saia ilesa. Gatilho é o nosso jeito de gritar.
Um jeito de fazer pensar. Para deixar registrado e não ser esquecido. Gatilho é a nossa arma contra uma estatística que mostra que a PM baiana matou 299 pessoas em operações, só em 2015, ano da chacina; ficando atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo, que registraram 645 e 848 mortes em ações militares, respectivamente. Os números indicam, ainda, que 76,2% das vítimas de ações da polícia são negras - Atlas da Violência, 2018.
Por Adriano, Jeferson, João, Bruno, Vitor, Tiago, Caíque, Evson, Agenor, Natanael, Ricardo, Rodrigo — e tantos outros jovens negros e pobres que, diariamente, são mortos em nome de ações legitimadas sob a justificativa de uma "resistência" que apenas a palavra da polícia sustenta. Gatilho é a voz do "lado" que sempre acaba morto.
Gatilho existe por eles, por você e por nós.